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  Wednesday, July 09, 2003  

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foto: Fernanda Suplicy

Good Bye...

Hoje, 4 de julho, é a última noite que passo em Nova York. É a última noite que durmo em Manhattan. É a última noitada de sexta-feira. É o último artigo do “Amarar em New York”. O ciclo Nova York, enfim, acabou.

Talvez tenham sido os melhores dois anos da minha vida. Engraçado dizer que os melhores anos de sua vida foram fora de seu próprio país. Mas é verdade. Não me sinto com isso negando minha brasilidade, muito menos isso é uma declaração implícita de desamor à minha terra. Continuo apaixonado tricolor e absoluto devoto das tardes nos botecos de São Paulo. Mas Nova York me proporcionou tudo que eu espero de uma vida urbana. E me acolheu plenamente.

Pois Nova York não pertence a ninguém. Pertence a todos nós. É a única cidade do mundo em que cada indivíduo que pra aqui vem logo logo se sente dono do lugar. Não daqueles donos que mandam e desmandam. Não senhor. A titularidade sobre a cidade é mais como um acionista da empresa. Por menor que seja sua quota, você se sente também um proprietário. Não acontece com nenhuma outra cidade. Por mais que você se sinta à vontade em Paris, Roma, no Rio ou em Buenos Aires, você é e sempre será um estrangeiro. Quando o habitante local perder todos os argumentos, vai baixar o nível e te negar a propriedade sobre a cidade, fazendo referências a sua origem. Você é um alienígena e não pertence àquele lugar. Paris é dos parisienses. Roma pertence àquele sujeito romano. O Rio é intestinalmente dos cariocas. Buenos Aires, então, é quase de outro planeta, habitada por seres argentinos. Não com Nova York.

Nova York é dos italianos, é dos judeus russos e poloneses, é dos irlandeses e também de todos os chineses. Mas é também dos brasileiros e dos colombianos. E, acreditem, até dos franceses é. Nova York também é dos americanos.

E tudo é espremido e condensado numa ilha. O limite, claro e definido, de onde a terra começa e acaba, faz com que a sensação de posse sobre o lugar seja ainda mais presente. Pois Nova York não é tentacular como São Paulo, onde não se vê no horizonte as suas margens. Aqui, tudo é mapeável e distinguível. E poucas são as esquinas onde não se possa caminhar. Nova York dá quase pra abraçar.

Há dois anos era um pouco diferente. Tinha lá aquelas duas torres que vi numa manhã cair. E o presenciar daquele momento me aproximou ainda mais da cidade. Pois a experiência humana só se completa quando, a despeito dos confetes e taças de champagne, é cavada na dor pela perda. Nova York foi violentada.

Vou lembrar de muita coisa. Não esquecerei dos sanduíches de pastrami da Katz´s, dos hamburguers do Corner Bistrô, das montanhas de neve por toda cidade numa tempestade inusitada. Vou lembrar das centenas de momentos capturados com a visão de extravagantes personagens. Do strip tease improvisado de uma moça num nightclub e o olhar quase blasé do público à sua volta. Ficarão na memória incontáveis passeios de bicicleta, o cheiro do Central Park e o barulho do vento nas tardes de outono. Sentirei falta dos capuccinos da Starbucks e de intermináveis leituras gratuitas em noites de inverno na Barnes & Noble. E sentirei falta dos amigos e de tantas Guiness bebidas juntos. São lugares comuns, é verdade. Mas são verdadeiramente intensos.

Guardarei pra sempre a lembrança do som de Gershin e Sinatra, que tinham charme adicional com a introdução da voz aveludada de Jonhattan Schwartz em seu programa de rádio. Como disse um amigo meu certa vez, “Ouvir Sinatra em Nova York é diferente”. Terei muita, terríveis saudades, das caminhadas a pé e da visão dos seus habitantes.

Mas não vou dizer adeus. Não existe a palavra adeus em inglês. Há somente bye e good bye, que não tem a seriedade e o compromisso do adeus. Talvez seja proposital. Quem passou por essa cidade, sempre, em algum momento, acaba voltando.

A canção tinha razão, New York, definitivamente, é “a state of mind… “

Bye.

posted by The guy behind a screen @ 10:44 PM |

  Wednesday, July 02, 2003  

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As Malas e Nossa Maturidade

Há anos que tento o impossível: fazer a mala com estilo, eficiência e eficácia. Já nem penso em elegância, pois esse é o estágio supremo da perfeição na arte de preparação das malas. Sempre foi um martírio e o fracasso na empreitada representava um aborrecimento perturbante. Porque fazer as malas exige não só um alto grau de organização. É preciso também um pouco de paciência, um traquejo manual e, sobretudo, um senso acurado de importância das coisas. Ou seja, o fulano que faz bem a mala está pronto pra vida civil e todos seus discretos desafios. Pois a preparação da mala é, necessariamente, um ato de engajamento. Você precisa fazer escolhas a toda hora, renunciando às leviandades. Levo essa segunda camisa pólo ou deixo espaço pra camiseta branca da Hering? Levo a calça jeans ou ou só vou de social? E aquela meia de corrida? Vou precisar de 4 mesmo ou não vou correr sequer um dia e me afogar nos drinks do fim da tarde? Mais do que uma frescura estética, é quase um ato de estadista, ao admitir que certas atividades não serão cumpridas e não adianta levar o tênis de corrida, na expectativa do cumprimento da agenda esportiva pois, admita, ela não será cumprida. Ao menos naquela viagem.

Mas cada viagem é um diferente desafio. O fim de semana no campo requer um senso apurado de escolhas. Levar cinco camisas por estar na dúvida revela um alto grau de postergação do maleiro. O desafio inicial, portanto, é fazer um corte de itens básicos. Se passar esta etapa, é possível afirmar que este é um indivíduo pró-ativo e tende a tomar decisões incisivas. O tempo na escolha dos itens também revelará traços importantes de comportamento. Se mais de um minuto se passar entre as escolhas da camisa, há grandes chances de esse ser nunca virar CEO de alguma empresa. Se, porém, estiver em dúvidas de comportamento sexual, estará desculpado e até mesmo 3 minutos pras camisas será aceitável.

A mala na praia é a do tipo mais fácil. Aqui, mais do que 5 minutos na preparação revela sérios distúrbios de personalidade. É preciso dar descontos às mulheres, onde o cronômetro deve ser interrompido na parte da escolha dos cremes. De volta aos itens básicos, o cronômetro deve rodar sem perdão.

Viagens mais longas, daquelas do tipo 2 ou 3 semanas na Ásia estão entre as mais difícieis. O fulano não só precisará de todo senso apurado de escolhas, como também necessitará dos traquejos manuais. Mala desarrumada, ainda que entulhada com os ítens corretos, invalida toda pré-seleção de peças bem escolhidas. O fulano é bem prático, mas não tem poder de finalização, deixando o acabamento de lado. Há traços de engenheiro na personalidade.

Mas o pior de todas são as viagens longas, aquelas de um ano e de mudança de território. Essas equivalem ao vestibular para o estágio adulto. O fulano precisa não só separar tudo, prevendo mudanças climáticas e alterações de humor, como também tem que encaixar toda uma vida num saco com rodinhas. Contêiner não vale. Colocar tudo num caixotão e despachar por navio, embora ganhe pontos em praticidade, revela a desistência diante do desafio das escolhas e um apego quase religioso aos bens materiais. O indivíduo não consegue, sem um aperto no coração, se livrar de peças de jogo de botão soltas no fundo da gaveta. Manda empacotar tudo.

Não é à toa que malas são feitas com muito maior competência por mulheres. E não se caia na justificativa fácil de que "isso é coisa de mulher". Mentira. As moças levam a melhor porque são naturalmente precoces. Amadurecem mais rápido.

Quanto a mim, não tenho dúvidas. Quando combinar em três malas, muito bem dispostas, anos de moradia (os livros não contam), estarei um homem maduro.

Por enquanto, ainda preciso de quatro valises.

posted by The guy behind a screen @ 4:00 PM |

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