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  Saturday, May 31, 2003  

[ 200369087 ]
 

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posted by The guy behind a screen @ 9:15 PM |

  Tuesday, May 27, 2003  

[ 200351178 ]
 



Mistérios que se foram

Lembro-me quando ia pra São Paulo visitar meus tios. Era época de cabelos longos de criança (não intencionais portanto), e 1.5 metro de altura. São Paulo parecia sempre fazer frio. Todas minhas lembranças dessa época me remetem à dias nublados e temperaturas baixas. Gosto de lembrar assim. São Paulo parecia ainda mais enigmática. A imagem mais marcante continua sendo do terraço da casa do meu tio. Era na Rua Votuverava. Não esqueço esse nome. De lá, na Cidade Jardim, eu via as luzes acesas do Jóquei. Aquela imagem de uma cidade tentacular, imensa na noite fria, fazia de São Paulo uma cidade misteriosa, inatingível pra uma criança. O Estádio do Morumbi então era um abismo indecifrável. Lembro-me da primeira experiênca. Não foi uma boa experiência. Foi em 78. O São Paulo precisava ganhar no tempo normal e na prorrogação pra ser campeão. Ganhou de 3 x 1 acho, no tempo normal. Mas ficou no empate na prorrogação. Lembro-me saindo do estádio, minutos antes da partida acabar, de mãos dadas com meu pai. Já lá fora, em direção ao estacionamento, antes que o jogo terminasse, fazia repentinos movimentos de espanto, esperançoso com as frequentes erupções da torcida lá de dentro. Puxava então a mão do meu pai e olhava pra ele (ele parecia tão grande!), perguntando se não tínhamos marcado o gol da consagração. Meu pai dizia que não, meneando a cabeça, em tom conformado.

Naquela época, e durante alguns anos, tudo parecia mistério. Havia o mistério das mulheres, das cidades, dos personagens que a habitavam. Havia o mistério do cheiro do whisky que os adultos tomavam. Havia também o mistério sem razão alguma. Queria decifrar tudo e preservar o encantamento. Depois, fiquei adulto. E o preço da maturidade foi a perda de todos esses mistérios, que um a um foram entrando pro rol das realidades. Aí ficamos “malandros”. Antecipamos as jogadas, evitamos os erros, diminuímos os sofrimentos. Mas também diminuímos as expecativas e, de certa forma, deixamos de sonhar.

Meu pai sabia, pelo andar da carruagem, que aquele título, àquela altura, já estava perdido.

posted by The guy behind a screen @ 10:09 PM |

  Monday, May 26, 2003  

[ 200343314 ]
 

De Pai pra Filho

Há anos que corro atrás da Babel literária. Meu sonho era uma biblioteca inteira que coubesse no meu computador. Onde eu pudesse fazer anotações nos livros, marcar página, ler pela metade, blá, blá, blá e tudo não tivesse mais do que o peso de um laptop. Essa história de estante de livros tem lá seu charme, mas o ônus é o sedentarismo que ela nos traz. Se você tem uma estante razoável, nunca poderá imaginar-se vivendo outras vidas, longes de seus pertences. Nem poderá dar as costas para o mundo, saindo do trabalho e indo direto pro aeroporto. No meio do caminho será atacado de terrível remorso e dirá a isso mesmo: “Mas e minha biblioteca?”. E, pateticamente, mandará o táxi dar meia volta, arcando com os custos da longa corrida presa no trânsito. Mas eis que a libertação veio. No feriado chuvoso em Nova York, descobri a biblioteca de Alexandria. Toda digitalizada, acessável (esta palavra existe?) de qualquer lugar do mundo. Há mais de 45 mil livros na área de Ciências Humanas e, entre períódicos e artigos publicados, chega a 400 mil. Tudo bem, falta ainda muita coisa. Mas fiz uns testezinhos e encontrei todo o básico. Há até Machado de Assis, em inglês. Ainda não é o suficiente pra escapada ao aeroporto, já que Nelson Rodrigues, Euclides da Cunha e o próprio Machado, não estarão viajando consigo na língua natal. Mas já é um bom começo. Então, meus amigos, libertem-se de suas amarras, economizem em bobagens como CD playes no carro com controle remoto e assinem uma conexão rápida da internet. Depois, cliquem no www.questia.com e façam a assinatura anual. Livrar-se dos bens materias é o primeiro grande passo para a vida errante.
P.S.: quando acessarem o site acima, click no ícone da direita (Instructional Demo) e ouça a mocinha explicar tudo.


posted by The guy behind a screen @ 10:38 PM |

  Sunday, May 25, 2003  

[ 200340368 ]
 



Juventude: Uni-vos!

Leia a revista semanal do New York Times e verá a nova juventude direitista americana montando sua cabana decorada de flâmulas nos campus das universidades. O enorme crescimento da turma neo-conservadora tem culpados: os radicais muçulmanos e os chatos ultra liberais. Já havia um crescimento da direita americana, cansada de ter que ficar contando piadinha racista ao pé do ouvido, massacrada por essa coisa besta de multiculturalismo e sua ditadura relativista. Aí veio Bin Laden, e o que era projeto tornou-se realidade. Como disse o comediante Garrison Keillor no seu programa no rádio sábado à tarde: “Virei Republicano. É tão bom isso. Não preciso mais ficar me policiando com o que falo. Um alívio!”

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O Homem do Bar

A vida de um barman em NY é uma tarefa titânica. Há um jogo de mãos quase olímpico, enquanto o olhar e o ouvido concentram-se nos movimentos labiais, lábios do mundo inteiro, em confusos pedidos, pedidos sem sintaxe e sem regência, tudo atrapalhado pelo distorcido rock´n roll ao fundo.

posted by The guy behind a screen @ 10:48 PM |

   

[ 200339126 ]
 

A Força das Pequenas Coisas

Todo um sabádo jogado fora, toda uma noite que podia ser, não foi e nunca mais será. O recolhimento precoce à casa, o desiludido sábado em frente à TV, enquanto lá fora são distribuídos milhares de sorrisos e convesas bobas; também litros sem fim de margueritas e cosmopolitans são despejados, bebidos, derrubados, vomitados. E todo esse distanciamento auto impingido por uma simples concessão a um impulsão físico, a um desejo ancestral.

Ah, se tivesse escutado a razão, e ignorado aquelas duas rodelas de cebola que vieram no duplo hambúrguer das 9...

posted by The guy behind a screen @ 11:56 AM |

  Saturday, May 24, 2003  

[ 200337201 ]
 

Homens e Mulheres de Branco

Já é tarde da noite e encontro marinheiros pela cidade. Não, não estou bêbado. Às vezes um navio militar aporta em Manhattan e um monte de gente de branco se espalha pelos bares e pelas calçadas da cidade. Não consigo nutrir respeito por essa categoria. Nem temor reverencial me ocorre. Há qualquer coisa de esquisito com essa cor. Um fulano que se veste de branco, dos pés à cabeça, não pode, não, não pode, guardar consigo agressividade. Menos ainda vagar bêbado, e ainda menos ir pro combate. Branco deveria ser só permitido aos homens de paz: médicos, dentistas e enfermeiras. E às mulheres noivas também seria permitido, como uma exceção, já que as mulheres noivas são cândidas por algumas horas, só até o momento em que começa aquela erupção de emoções. Se bem que aí até que elas respeitam a regra e, corretamente, se desfazem das incômodas roupas brancas.

posted by The guy behind a screen @ 2:35 PM |

  Friday, May 23, 2003  

[ 200334149 ]
 

Consensus de Washington, Reloaded
(ou, Do Amor de Lula pelas Galinhas)

Ontem saí mais cedo do escritório pra assistir aos economistas John Williamson e Pedro Pablo Kuczinsky falarem sobre seu novo livro, "After the Washington Consensus. Restarting Growth and reforms in Latin America". Nunca tinha notado, mas há uma multidão no metrô às cinco da tarde. Todo mundo sai do trabalho às cinco da tarde em Manhattan. E não são só os homens de colarinho azul, os que usam o bíceps pra pagar a prestação, que deixam o trabalho antes de o sol se pôr. Os de colarinho branco também vão na leva. É como se a cidade inteira fosse de funcionalismo público, que se recusa a mandar o email se o ponteiro bateu nas 5:02. “Desculpa, mas vou perder meu trem”, diz a secretária em tom irritado.

Quatro estações mais tarde, estava lá eu usando toda a concentração de um advogado pra entender o que economistas falavam. John Willianson, lá pelas tantas, menciona que Lula chama o tal de Consensus de Washington, que ele criou, como trabalho do demônio. Ou seja, estávamos todos ali, ao vivo, vendo o Diabo em pessoa, a besta de tridente na mão, com sotaque inglês, as 5:30 da tarde!

O ponto alto porém, como sempre ocorre nesses eventos, ficou para as histórias de bastidores. Segundo gente do staff do Americas Society, Lula esteve lá quase todas às vezes em que concorreu à presidência. A melhor história, claro, ficou reservada para o Lula pré Duda Mendonça, pré Liberalismo, e pré Internet, o Lula I. Aconteceu assim: o Lula pré-civilização concorria com Collor, e foi lá dizer porque merecia o apoio dos banqueiros. Lá pelas tantas, 1 hora antes da apresentação, chega na recepção um daqueles mexicanos de bicicleta (aqui não se usa motoboy, é bikeboy), com um carrinho de comida pra Lula e sua trupe, acompanhado da nota de U$ 75.00 (fiz as contas e, aplicando a inflação, daria U$ 340.00 de hoje). Lula descobriu um restaurante brasileiro que mandasse frango, arroz e farofa. Quinze minutos mais tarde, segundo o informante do staff, a sala dos bastidores de Lula lembrava Sarajevo, com os corpos das galinhas trucidadas pelo chão e Lula com a barba brilhando o a pele lustrosa do frango.

Diz a funcionária do Americas Society que isso tudo acabou, o que não é novidade pra nós brasileiros. Mas vale como anotação. A última vez que Lula esteve lá, pediu água, café e comeu risotto de aspargos, em porções equilibradas. E, detalhe importante, vestia Armani e gravata Zegna.

O resultado, óbvio e esperado, mas por anos desprezado por Lula, foi que ninguém ficou com medo quando ele, Lula, falou mal sobre o tal Consensus de Washington. Já não soava opinião sincera e parecia o jogo popular de campanha. A razão é que estavam todos com a apólice na mão: a informação sobre o risotto de aspargos tinha vazado. E da platéia, não havia como não notar o corte do terno, e as cores luzentes da gravata Zegna. E nem mesmo a voz rouca de Lula já mais assustava.

posted by The guy behind a screen @ 1:25 PM |

  Thursday, May 22, 2003  

[ 200328491 ]
 

O Torcedor

Ontem o Presidente Lula sancionou o Estatuto do Torcedor. Isso mesmo, do torcedor de futebol. Como advogado militante e torcedor engajado, chequei tudinho, tintin por tintin. Tinha a esperança de que, lá na definição de torcedor, encaixassem também o de comentarista de blog, esse torcedor apaixonado. É que todo blogueiro tem a dupla função, de escritor e comentarista. É jogador e torcedor. Se houvesse espaço legal, esse Ser estaria amarrado lá, entre direitos e obrigações. Sim, obrigações! Digo isso preocupado não com o que acontece aqui, já que não sou de muitas polêmicas e não tenho reclamações a fazer. Mas me causa suspiro o que ocorrerá, entre arremessos de exclamações e salto triplo de adjetivos, lá no Blog do Olavo de Carvalho, que o craque Alexandre Soares avisa que já está no ar. Se com um ou outro ocasional artigozinho caricato, esse espaçozinho aqui ganha barulho, já imaginou com o pai das polêmicas, o homem que conseguiu brigar até com o Luiz Fernando Veríssimo? As meninas de gene impulsivo e os meninos de traços recalcados, enfim, encontraram seu playground virtual, (que agora não se limitará mais ao Paulo Polzonoff), onde poderão descarregar seu ódio às opiniões alheias, com mãos pesadas e dedos apressados no teclado, ao som de disritmadas acelerações cardíacas. E o que é melhor de tudo: poderão dizer, o que confusamente pensam, sob a contínua e doce proteção do anonimato. Allez enfants!

posted by The guy behind a screen @ 11:24 AM |

  Wednesday, May 21, 2003  

[ 200323155 ]
 


Jayson Blair: "I will entertain you!"

Let’s Entertain!

Ainda causa barulho por aqui a história do “jornalista” Jayson Blair do New York Times, o tal cara que produzia textos em forma de mosaico, importando uma parágrafo de um autor ali, colando frases próprias aqui, criando um depoimento inexistente lá no meio do texto, encaixando tudo sob a moldura de um fato verdadeiro, pra dar equilíbrio na coisa.

O NYT, espertamente, publicou a notícia antes que a coisa vazasse. Avisou aos leitores, lá do gramado, pedindo pra ser substituído, antes que a torcida descobrisse a farsa iminente. Assim agindo, o Times preservou sua imagem imaculada de integridade, mas sua credibilidade foi por água abaixo. Mas, quantos de nós deixará de ler o Times por conta disso? Pouca gente. E a razão é que notícias como as que o tal do Jayson Blair reportava, como a história do tal “sniper” de Maryland, não são levadas a sério por ninguém. São puro entretenimento. Ninguém lê sobre um franco-atirador, querendo saber sobre a verdade nua e crua dos fatos. O leitor quer é diversão e passatempo. Algo que faça companhia nos domingos de sol no Central Park.

E esse é um fenômeno tipicamente americano: a notícia como “entertainment”, a mídia como um “business”. Há pouca diferença entre montar um jornal e estabelecer uma distribuidora de bebidas.

Não é a toa que a mídia local, quando não está falando sobre guerra, passa horas e horas noticiando o sequestro da menininha, o estupro e desaparecimento da fulaninha, a morte em série dos garotos na escola. Pouco tempo é gasto analisando os atos presidenciais de Bush, ou a política exterior do governo. Afinal, who cares? Fulano só quer diversão.

Nós, brasileiros, não precisamos disso. Não precisamos porque criamos nossa própria ficção, dispersa no nosso dia a dia. E tendemos a encarar a leitura como forma educacional e não recreativa. Nossa vida já é um grande playground, entre cantadas no meio do quarteirão e assaltos na esquina, salpicada com fofocas do escritório. E à noite, temos nossas novelas!

Por isso é que sou dos que acreditam que a mídia deveria ser toda ela opinativa e ensaística, como única forma de manter o que resta ao que se quer jornalismo. Que acabem com essa balela de jornalismo como retrato distanciado dos fatos. Essa história acabou. Na verdade, nunca de fato existiu. Jayson Blair entendeu isto. O único problema é que foi pego, antes que lhe dessem o prêmio Pulitzer, pelos excelentes serviços prestados. Agora, não lhe resta mais nada. Vai ter que abrir pousada no sul da Bahia. Não lhe faltará histórias pra contar. Será puro entretenimento.

posted by The guy behind a screen @ 11:14 AM |

  Monday, May 19, 2003  

[ 200315063 ]
 



Curb Your Enthusiasm

Ser politicamente incorreto nos EUA passou a ser tão comum que já se vislumbra uma nova onda propondo a volta do politicamente correto, só pra ficar mais chique. No Brasil, ainda estamos na situação inversa. Vivemos sempre um passo atrás quando se trata de roupagens democráticas. E, invariavelmente, estamos sempre copiando.

Assim como na moda há um encolhe-aumenta dos biquínis, sempre contestando o verão precedente, a história da manifestação de pensamento por aqui também é sazonal. A prova definitiva de que o tal do politicamente incorreto não se restringe mais a uma elite contestadora e pensante, é que já vai para a terceira estação o seriado Curb Your Enthusiasm, criado pela HBO local.

Larry David, estrela principal do seriado, é o produtor do consagrado e querido Seinfeld, e aqui faz o papel de si mesmo, relatando apenas seu dia a dia de produtor milionário aposentado. Lembra Seinfeld, a série, mas vai além. É mais cru e verdadeiro. Larry é o produto acabado do liberal totalmente incorreto, que vomita na tela, sem pudores, todos seus preconceitos de raça, credo e sexo. É egoísta no sentido mais humano da palavra. Age como tantos de nós agimos e é o mais perfeito retrato do americano que não tem pruridos em demarcar seu território. Para o brasileiro pode soar quase surreal algumas das cenas, mas se você já morou por aqui vai ver que a velhinha te xingando no ponto de ônibus e, pior, você xingando de volta, não é cena de filme. Acontece de verdade.

A turma dos politicamente incorretos no Brasil vai se deleitar. Mas a hora que perceber que o episódio é semanal e tá virando coisa popular, vão querer mudar de lado...

posted by The guy behind a screen @ 10:09 PM |

  Saturday, May 17, 2003  

[ 200306637 ]
 

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posted by The guy behind a screen @ 10:58 PM |

  Friday, May 16, 2003  

[ 200301168 ]
 

Há o prazer absoluto, ao qual chamamos por vezes e equivocadamente de felicidade. E há a falta completa de prazer, o antagônico, agora com nome justificável, ao qual chamamos de infelicidade. Entre um e outro, vamos ao cinema ou surfamos na internet.

Estou cada dia mais hedonista.

P.S.: hoje de madrugada, tem audio blog, comentando in locu o filme Matrix Reloaded.

posted by The guy behind a screen @ 9:41 AM |

  Wednesday, May 14, 2003  

[ 200292768 ]
 

Manual do Candidato:

Da garota piracicabana para o menino:

“Esse carro aí é seu?”

Da garota paulistana para o menino:

“Como é mesmo o seu sobrenome?”

Da garota novaiorquina para o menino:

“What do you do?”

Explicações ao candidato:

(i) garotas americanas são democráticas e meritocráticas. Não interessa o teu nome, quem é seu pai, da onde veio, seu sotaque e trejeitos do meio-oeste americano. Conseguiu se dar bem na vida? Você é um exemplar digno de respeito. Merece confiança e dedicação. Juntos, podem trabalhar em equipe e obter aquela sonhada casa nos Hamptons, com um Setter correndo de lá pra cá no gramado sem cerca. O governo ainda te ajudará, cobrando 3% ao ano pelos juros do financiamento. É o casamento joint-venture.

(ii) garotas paulistanas não se interessam somente pelo seu dinheiro. Estão confusas. Com a profusão de BMWs e Audis de lá pra cá, pode haver muita picaretagem no meio. É melhor confiar no bom e velho sobrenome. Além disso, só muito dinheiro te abrirá portas para os vernissages da cidade e acesso ao clube Harmonia ou à Hípica Paulista. Mas um bom sobrenome não falha, mesmo que a mensalidade do clube fique em atraso, ainda é o melhor negócio.

(iii) garotas piracicabanas não podem ser meritocráticas, pois o capitalismo aqui ainda reina insípido. Também não podem se dar ao luxo de sobrenomes, senão o filtro deixará escoar, livre do bagaço, somente meia dúzia de rapazes e suas usinas de açúcar, todos devidamente endividados e vivendo mansamente da renda da tia matriarca. O jeito é o puro deleite do instante, já que numa sociedade quase sem castas o que vale é o diz-que-diz no domingo à tarde.

Conclusão: garotas americanas vivem e transpiram a plutocracia; garotas paulistanas se amolecem mesmo é com a aristocracia; garotas piracicabanas só almejam o desfilar pra burguesia.

P.S: antes dos ataques, lembrem-se de Pascal: a ciência se faz pela média...

posted by The guy behind a screen @ 5:57 PM |

  Tuesday, May 13, 2003  

[ 200287656 ]
 



Matrix Reloaded

Hoje é a última noite que precede a noite de véspera da estréia de Matrix, o novo Matrix. Portanto, é dia de experimentar o que os sentidos mais palpáveis nos trazem de verdade. Pois, depois de amanhã, tudo não passará de uma grande ficção, e o cheiro de milho verde fervente no caldeirão será apenas uma produção de software implantado em nosso cérebro.

Há uma badalação quase de torcedor em vestiário pelo mito moderno que Matrix se tornou. Matrix cativou milhões no mundo inteiro e criou legiões de adeptos, como se a tal Matrix do filme existisse de verdade. Há razões pra isso. Pois não é só a novidade de seus efeitos especiais, que trouxe pra terra batida a já cansativa e repetitiva confusão de raios laser e brigas intergaláticas, transformando tudo num palpável ballet de socos e pontapés, que atrai em Matrix. Além desse fato, houve muita gente que se afeiçoou àquela idéia da verdade alcançável.

O mundo real estaria aberto aos degustadores da tal pílula verde, se eles pudessem resistir à tentação dos bifes encorpados e se, em esforço extremo, se libertassem da escravidão das coxas suculentas, semi cobertas por um clássico vestido vermelho. Pessoalmente, não acredito nos benefícios das pílulas verdes. Elas não me convencem. Vou além. Sou daqueles que segue a linha de que estamos, por natureza, vacinados contra as tais pílulas. Pois temos todos, ali, em algum lugar entre o quadrículo esquerdo do cérebro, a tal mentira vital, o antídoto em formato de ignorância, que ora vêm moldado no calor das picanhas, ora toma forma de tórridas lingeries.

Mas Matrix insiste e não desiste, no melhor estilo doutrinador, querendo nos libertar desse mundo falso e doentio. E não poderia ser diferente.

Matrix é, na verdade, o grande Manifesto Comunista moderno.

posted by The guy behind a screen @ 7:49 PM |

  Saturday, May 10, 2003  

[ 200273063 ]
 

Em Harmonia

Há não sei quantos deles perfilados ordenamente sobre o gramado. Todos comportadinhos, sabendo exatamente qual o seu papel, ficam imóveis, esperando o momento certo de agir. Usam uniformes justos no corpo. Apesar de o sol não causar mais empecilhos, não dispensam o boné, uma marca registrada do país inteiro. As meias se sobrepõe ao final das calças, ficando expostas quase aristocraticamente. Através da grade que põe um limite entre o gramado e a calçada, observo esses meninos de 10 anos de idade, que parecem dispostos na superfície de um daqueles bolos de aniversário. O sol já se foi e há somente aquela luz atrasada do fim da tarde, com apenas mais alguns minutos de sobrevida. Há uma brisa morna e esporádica, que bate vindo do rio, há apenas algumas quadras. Pais e técnicos olham atentamente, com movimentos musculares no rosto. De braços cruzados, dão gritos de incentivos, mas exigem seriedade.

Vendo assim, essa cena adocicada em plena Manhattan, tem-se a impressão que estamos perdidos numa cidade do interior americano, onde o senso comunitário toma forma de encontros esportivos e festas beneficentes, além de incontáveis grupos de discussão de bairro.

Vou embora antes que o jogo acabe, a contragosto por ter que deixar a imagem idílica em pleno centro urbano. Queria ter tido, ali, o tempo de sobra que Benicio del Toro teve em Traffic e ficar mascando chiclet esparramado na arquibancada, acompanhando o jogo despretensioamente, sob aquela luz amarelada da noite. Mais tarde, a certa altura do jogo, pediria um hot-dog.

posted by The guy behind a screen @ 7:25 PM |

  Thursday, May 08, 2003  

[ 200264743 ]
 

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posted by The guy behind a screen @ 7:32 PM |

  Wednesday, May 07, 2003  

[ 200256144 ]
 

Humilhação

Começou a esquentar em Nova York. O que significa ar condicionados ligados, o que, por sua vez, significa frio glacial nos espaços fechados. O ar condicionado na América é a prova definitiva de que, mais do que ter o domínio sobre a natureza, os americanos querem humilhá-la por completo.

posted by The guy behind a screen @ 9:36 AM |

  Tuesday, May 06, 2003  

[ 200249577 ]
 



A Guerra e a Nova Agenda Americana

Nunca mais voltei a esse assunto. Me cansou. Na verdade cansou a todos. No período de 10 dias, enquanto passava férias sob o sol da Bahia, a guerra acabou. Quase ninguém mais comentou, mas a guerra realmente acabou. Alô, a guerra A-CA-BOU. E todos ficamos com essa impressão azeda de que, enfim, todas as previsões apocalípticas sobre a guerra não ocorreram. Na verdade, Bush venceu. Admitamos, Bush estava certo.

O que se imaginava uma batalha sangrenta, um despedaçar de almas e corpos, uma tarde no Sarriá, não passou de um jogo amistoso. Os americanos entraram, mataram meia dúzia, tomaram aqui, ali, acolá e, quando se viu, tudo estava acabado. Ficamos todos com cara abestalhada, atormentados entre o dilema de ver o caos completo e, assim, justificar nossos argumentos, e o suspiro aliviado pelo massacre que não ocorreu. Pois a verdade é que as milhares de cenas de horror e violência que se esperavam não aconteceram. Tudo bem, aconteceram, mas convenhamos, nada perto do que se imaginava como a grande tragédia. Longe, muito longe do que era previsto.

Ok, Bush continua sendo o que era e todas suas opiniões sobre ele continuam válidas. Mas agora teremos que engoli-lo. Exatamente como quando Zagalo nos trouxe a Copa. A diferença é que Bush não virou para nenhum repórter e disse: You have to swallow me now!

Em compensação, agora teremos que aguentar, aqui na América do Norte, provavelmente pelos próximos 5 anos, o seguinte cenário:

· Você é aquele jornalista que falou mal do governo? Pois não é bem vindo às entrevistas coletivas. E tem mais. Não merece as informações de pé de ouvido propositalmente desaguadas na imprensa pela nossa Administração. Se você falou mal do nosso governo, agora deve arcar com as consequências e se limitar a publicar resenhas sobre os novos filmes de hollywood, ou comentar o último clip da Madonna. Saí daqui seu jornalistazinho de m....!

· Andou indo em festas e passando de mão em mão o baseado para os amigos, escrevendo sobre os benefícios da discriminalização das drogas ou alguma vez fumou e tragou? Esqueça a vida pública seu viciado! Seu destino é ser vendedor de seguros numa remota cidade do Tenessee. E cuidado, na hora que bobear, te enquadramos nos crimes hediondos e lhe aplicamos 60 anos de prisão. Seu drogado!

· Alô, feministas! Lembra daquela questão da liberdade da mulher sobre o próprio corpo, aquela história de que o aborto é uma pedra fundamental no rol de direitos americanos, aquela baboseira toda que tivemos que engolir durante quase 40 anos? Pois se preparem, estamos atrás de vocês. Logo logo aprovaremos no Congresso uma lei pra que essa palhaçada toda acabe. Criminosas assassinas!

· Sabe daquele negócio de Estado laico, ou seja, da separação entre o Estado e a religião? Forget about it! Estamos cuidando de passar uma lei transferindo recursos públicos para as escolas privadas que ensinam religião. Afinal, é para o bem da nação. Como assim não acredita em Deus? Seu impatriota! God bless América!

· Resolveu olhar uns peitinhos de fora e umas poses safadas com o computador da biblioteca pública? Não, você não ficará apenas constrangido porque a Sra. Matthew te pegou no flagra. Vai ter que pagar multa ao município e será banido indefinidadmente do recinto. Já estamos trabalhando no Congresso pra que isso ocorra, seu tarado depravado!

· Documento, me mostra o documento! Tá andando sem carteira de motorista no bolso? Quem é você? É bom explicar direitinho pra gente. E cuidado com o que fala, pois se acharmos esquisito, te enquadramos como suspeito de terrorismo e te jogamos lá em Guantánamo Bay. Vai ficar mofando com macacão cor de laranja, sem direito à advogado. E nem pense em invocar essa meleca de due process of law. O tal do “devido processo legal” é só pra gente de verdade, ouviu seu animal?!


Esse é o novo cenário pós-guerra, já amplamente em prática aqui no dia a dia americano. Pois a grande verdade é que a melhor coisa que aconteceu pra agenda republicana, tudo aquilo que eles sempre sonharam, o mundo perfeito que sempre quiseram pôr em prática e nunca puderam, tudo lhes foi dado de bandeja, naquela linda manhã de céu azul e discreta brisa, em 11 de setembro de 2.001.

Bush está em dívida. Ao menos um cartão de agradecimento deveria ser enviado, mantendo seu estilo direto e objetivo: Thank you very much Mr. Osama.

Garanto que só não mandou ainda porque não tem o endereço.

posted by The guy behind a screen @ 8:01 AM |

  Friday, May 02, 2003  

[ 200235903 ]
 



Academia Brasileira

Ouço toda hora falarem mal do Paulo Coelho. Eu mesmo, gosto às vezes de falar contra o mago Coelho. Paulo Coelho não é exatamente, digamos, um exímio representante do mundo literário. Nunca foi. Mas Coelho é um grande business man. Um excelente homem de negócios, ou, se quiserem, de marketing, travestido de entidade metafísica. Qual o problema? Nenhum. Mas todo mundo fica ultrajado pelo fato de Paulo Coelho ter ido pra Academia Brasileira de Letras, esquecendo-se que Ivo Pitangui, isso mesmo, o cirurgião plástico, é também um imortal.

Acho que há um problema conceitual aí. Fico lembrando uma comparação que ouvi outro dia, que dizia que os biólogos britânicos do século XIX ficaram chocados quando descobriram a existência do ornitorrinco. O tal do ornitorrinco desafiara todos os parâmetros estabelecidos, pois na biologia clássica dizia-se, lá em compêndios de caneta de pena, que os mamíferos dão de mamar aos seus bebezinhos e, em hipótese alguma, botam ovos. De jeito maneira! Pois não é que o tal do ornitorrinco fazia as duas coisas?! _Mas como pode?, diziam o biólogos. Ora, o problema não era do ornitorrinco em botar ovos, pois ele sempre fez isso, antes mesmo dos biólogos serem biólogos, ou antes mesmo de a biologia ser uma ciência, na verdade antes até da palavra ciência, ou talvez antes mesmo da própria palavra. O problema, pois, era o de nomenclatura. Um problema apenas técnico, de enquadramento.

Pois a celeuma toda em torno da tal da Academia Brasileira de Letras está talvez mal colocada. É apenas uma questão semântica, de nomenclatura, à rigor. Pitangui não tem problema, Paulo Coelho não tem problema, Zélia Gattai não tem problema, quem tem problema é a Academia Brasileira de Letras, que deveria se chamar apenas Academia Brasileira. Um pequeno ajuste resolveria a questão e pouparia debates e insultos e, de quebra, salvaria a própria honra da Academia. Ivo Pitangui seria um notável cirurgião plástico, Zélia Gattai uma notável esposa de um famoso escritor, José Sarney, em categoria encomendada, um notável coronel de moustache e, Paulo Coelho, um notável charlatão, ou, pra que se evitem agressões, um notável marqueteiro. E a Academia Brasileira de Letras, em vez de ser uma notável piada, seria apenas uma casa de notáveis.

Não é notável que não tenham feito isso até hoje?

posted by The guy behind a screen @ 6:54 PM |

  Thursday, May 01, 2003  

[ 200228497 ]
 

Puro talento

Fábio Danezi, agora em novo endereço, capturou todo o espírito paulistanto com seu perfeito "Pingo de Galinha". Já Fredinho Amaral está sublime, captando o que Hector Babenco não captou, em seu artigo A Arte Adulterada, sobre o filme Carandiru. Depois desses dois posts, hoje não escrevo mais nada.

posted by The guy behind a screen @ 11:10 AM |

segredos da nossa
Língua Portuguesa
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