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  Sunday, September 29, 2002  

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Do Topo ao Topo

Sábado em Manhattan. Início de fim de tarde. Aproveito a esticada inesperada do verão e faço ginástica no roof da minha academia, que fica no 10o andar. O lugar é no west side, pertinho do Rio Hudson. A vista, um privilégio. Entre um e outro suspiro de descanso, largo os olhos sobre o rio. Há um pôr-do-sol maravilhoso e um transatlântico vai escorregando sem pressa na margem esquerda da ilha. Atravesso o deck e vou pro outro lado. Agora é a cidade que se exibe. O Empire States, amarelado pelo fim da tarde, reina absoluto, depois da perda dos primos gêmeos. A noite chega rápido, junto com o cansaço. Saio da academia às 7 pm, do topo do décimo andar para o topo do mundo das artes. O endereço é o Lincoln Center, onde o Times avisa que Jack Nicholson abre magistralmente o New York Film Festival.

Vinte minutos de metrô e 5 páginas de Philipp Roth lidas e já estou aonde queria. O metrô sai dentro dos teatros. Pra quem não sabe, o Lincoln Center é um complexo que congrega 4 grandes salas de espetáculo, que normalmente exibem balé, ópera, jazz e orquestras sinfônicas. Só tem rival com o Carneggie Hall, que tem objetos mais específicos. Com o fim do verão, começa a temporada e a quantidade de coisas de fino trato pra se ver é humilhante.

Erro a sala e saio dentro do Avery Fisher Hall, onde em 7 minutos vai começar a Filarmônica de N.York, com o maestro Andre Previn regendo Haydn, Ravel e Shostakovich (quem?!). Previn é convidado de Lorin Maazel, que assumiu a batuta da Filarmônica nesta semana que passou, depois de 11 anos do reinado do alemão Kurt Masur. Pois bem, não sou dos ouvintes mais sofisticados e sigo a platéia pra saber quando é hora de bater palmas ou quando é tempo de se filiar à sinfonia de tosses. Mas diferencio o preto do branco. Titubeando se vou atrás de Jack Nicholson ou se encaro a Filarmônica, dou de cara com uma senhora com ingresso de sobra. Sempre acontece. Não tem ingresso, não se preocupa, vá direto pro concerto. Há sempre uma mulher com cólicas, uma briga de casal ou um fastio de última hora que traz um assento vazio pronto pra ser arrematado. Se bobear, ainda consegue um desconto. Pois bem. Penso mais 2 minutos e resolvo encarar os U$ 60 que me pedem. Pessoas atravessam o oceano pra essas noites de concerto. Compram ingressos com 6 meses de antecedência só pra ver o topo da música erudita em pessoa. Não posso desprezar a oportunidade e me sinto “obrigado” a encarar o programa. É curricular.

Todas as salas do Lincoln Center são relativamente novas e não há opulência arquitetônica pra ser desfrutada. A concentração portanto, é só pra música. Mas o pacote é que vale e não deixo de passear meus olhares pelo público. Toda a aristocracia novaiorquina atende a esses eventos, com um senso de obrigatoriedade muito mais presente do que me acompanha. Anoto mentalmente as figuras.

André Previn, já velhinho, entra de Haydn, o que não me anima. Depois, com o excepcional pianista francês Jean-Yves Thibaudet, o concerto atinge seu apogeu e a performance é de tirar folego. Me desconcentro algumas vezes, atrapalhado por uma “atenta” ouvinte na fileira atrás que insiste em desembrulhar suas balas. A julgar pelo barulho, é bala de fio de ovos, trazida do casamento das 5. Antes do início do concerto, há enormes cartazes projetados no palco, implorando pra que celulares e bipes sejam desligados. Deveriam adicionar: “não desembrulhem seus papéis de bala”; ou “se tiverem vontade, peguem a bala e...”. Claro que, pelas leis de Murphy a desgraçada não escolheu o “alegro”, ou o “finale”, onde a turma de metais lá do fundo ia silenciar seu sonho de valsa. Não, tinha que ser no “adágio”.

Vamos pro intervalo, direto pros drinks e esticadas na sacada do Avery Fisher Hall, onde a brisa noturna anuncia a chegado do outono. Na volta, o tal do Shostakovich é invocado e, pra supresa da minha ignorância, fecha a noite com pompa e circunstância. Previn é ovacionado várias vezes e não esconde o contentamento. Depois de tantos anos acostumado ao sucesso ainda se deleita com os aplausos repetidos e arrastados.

Deixo o Lincoln Center com sorriso no rosto. Já são 11 da noite e vou pra uma festinha no Soho. Pra aqueles lados, o som é outro. Não exigem compostura ou engajamento. E os papéis e as balas tem outra importância.

posted by The guy behind a screen @ 8:46 PM |

  Friday, September 27, 2002  

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The Golden Boy

Deixei de comentar aqui um acontecimento significativo no mundo esportivo: a volta triunfante de Oscar de la Hoya aos ringues. Para os não chegados a esportes barbáricos como o boxe, vai aí a introdução. O americano Oscar de la Hoya, de pais mexicanos, é o queridinho do boxe internacional. Cara limpa, pele clara, sorriso generoso, fala sincera, nome de campeão, destoa radicalmente do que se tem visto nos ringues nos últimos anos. É educado, inteligente na medida do possível, e não esbraveja a torto e a direito como falastrões do estilo Mike Tyson e Fernando Vargas. Aliado a isso, o menino é um dos maiores fenônenos da história do boxe, que ainda se orgulha de nunca ter tido o nariz quebrado. Foi campeão em 5 categorias e nocauteou 2 vezes Julio Cesar Chavez, o garrincha mexicano. In short, o garoto é um milagre pras últimas décadas.

Pois bem. Há alguns anos atrás De la Hoya perdeu seu cinturão para o porto-riquenho Felix Trinidad, numa decisão por pontos que até hoje ele não deve ter engolido. Trinidad iniciou então seu reinado, que foi interrompido há exatamente um ano no Madison Square Garden, numa fenomenal luta que tive o prazer de ver ao vivo, contra o negro americano Bernard Hopkins. Trinidad apanhou a luta inteira, para o espanto de 95% dos portoriquenhos que lotavam o Garden, e finalmente desabou majestalmente no 12o assalto. A pancada foi tão pesada e acertou tão em cheio Trinidad, que repercutiu em seus brios, e a jovem estrela de Porto Rico achou por bem parar com essa brincadeira de socos e ir tomar Morritos e Margaritas pelas ilhas do Caribe. Juntou seus milhões e se foi.

Foi então que, quando todo o mundo do boxe achava que o marasmo que reina entre os pesos pesados ia se instalar entre os pesos leves e De La Hoya estava condenado a garoto propaganda de xampu no Novo México, que o moço decidiu voltar. Fernando Vargas era o campeão da vez. Vargas, de 24 anos, tem um estilo Tyson de ser, no ring e fora dele. Até a luta com De la Hoya ele tinha feito 21 combates, sendo 20 vitórias por nocaute e só uma derrota, para o mesmo Trinidad, que hoje passeia de Ryder pelo Caribe. Com as apostas em 6 contra 1, De la Hoya iniciou o combate como era esperado que se acabasse: foi pra lona em 1,30 min. Foram então mais 5 assaltos de varguismo. O trocadilho aqui não é mera coincidência. O homônimo do ditador nacional agiu tal qual, implacável e devastador, surrando sem piedade De la Hoya. Mas aí algo aconteceu.

Falando certa vez de Muhammad Ali, o cineasta Spike Lee disse que fulanos como Ali não eram simples personagens do boxe ou do mundo esportivo. Eram mais do que isso. Eram homens que superavam as limitações das suas próprias atividades e davam outra dimensão a elas. Seus atos, suas palavras, seus gestos, eram percebidos mais do que simples extensões de suas personalidades. Eram líderes. Líderes, porém, não se fazem a toda hora e é preciso condições ideais pra que se criem. Brotam num determinado ambiente, germinam na temperatura certa. Não é de se espantar que na nossa geração de internet os líderes sejam escassos e nossos ícones esportivos só ganhem atenção com fanfarrices. Temos craques, mas não confiamos em nossos craques. Mesmo quando vencemos suspeitamos que uma conspiração celestial agiu em nosso favor, mas não nossos craques. O mundo do boxe, pois, vive hoje desta mesma escassez.

Foi assim, portanto, a partir do 6o round, que De la Hoya trouxe de volta a esperança de que os “craques líderes” ainda existam. Vargas facilitou o trabalho e começou a cansar. Exatamente como Foreman contra ali em 74 no Zaire e Tyson em todas as suas últimas lutas, Vargas começou a bufar e o peso do seus punchs ficou difícil de carregar. Matadores bestiais como Vargas não são estrategistas. Não dançam no palco nem dão espetáculo. São esfomeados e, se não se alimentam na hora certa, preferem ir embora prá casa e esperar pela próxima vítima. Só ficam na arena porque há regras no jogo. Se pudessem, sairiam das savanas e voltavam pras cavernas. Ou dariam dentadas em seus adversários.

Foi então que De la Hoya lembrou-se que era melhor pugilista, mais experiente, nascido em território americano, mais elegante e mais bonito. Respirou fundo o ar de auto-estima e deu cruzados cheios de narcisismo. Foi jabeando aqui e ali, esquivando-se com rapidez inigualável, dando passinhos laterais a la Muhammad Ali, variando alternativas, enfim, foi boxeando. Foi ganhando pontos do sexto ao 10o round, quando então a luta se equilibrou novamente. Soou o gongo para o 11o assalto e parecia que tudo estava empatado de novo. Ledo engano.

O que se viu então, depois de 10 rounds de homens adultos se castigando mutuamente foi um dos maiores momentos do boxe nos últimos 15 anos. Vargas entrou pro tudo ou nada. Mas a luta já tinha dono. Embora estivessem quase empatados em pontos, já havia uma supremacia moral no ringue. O “menino de ouro” de Los Angeles foi batendo firme e determinado, com os olhos abertos e com uma fúria que já não era mais de se esperar de um pugilista desta idade. Vargas era valente e resistia o quanto podia. Mas aí um gancho de esquerda, seco e potente, acertou em cheio a lateral direita do rosto de Vargas, que foi literalmente arremessado ao chão e aterrissou como um saco de batatas. Foi o início do fim. Ainda zonzo, conseguiu se levantar. Não deveria. De la Hoya partiu pra cima e numa sequência de plasticidade espetacular golpeou 15 vezes Vargas, variando com punches, ganchos, uppers, diretos de direita, de esquerda, numa sequencia de rara beleza pugilística que só foi interrompida pela precisa intervenção do árbitro, que deu a luta por encerrada.

O boxe pode parecer brutal às vezes. Bestial mesmo. Mas é de uma plasticidade quando bem produzido que a brutalidade vira mero detalhe. O renomado escritor Charles Dickens, famoso por ser também um fanático fã de boxe, certa vez foi indagado pelos seus pares, indignados como um intelectual daquele porte podia gostar de tamanha primitividade, ao que então teria Dickens respondido: “Certamente o boxe é primitivo, assim como o nosso nascimento, nossa morte e o amor erótico também o são. Então, somos forçados a admitir, embora com muita relutância, que as sensações mais fortes de nossa vida são sensações físicas”. E tenha assim dito.

Longa vida ao Golden Boy. E fé nas palavras de Dickens.

posted by The guy behind a screen @ 4:42 PM |

  Monday, September 23, 2002  

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Caminhando pelos 31

Sábado que passou, dia 21 de setembro, passei da barreira dos 30. Nos meus 31 anos, o segundo já em Nova York, gastei meu tempo como típico nova yorkino: andando. Depois de tantos anos de vida paulistana, acostuma-se a se desacostumar e ninguém sente mais falta e, pior, nem lembra mais, dos prazeres de se caminhar. Anda-se entre o elevador e a garagem e, se tiver sorte, agrega-se adicionais passinhos até o carro.

São Paulo não nos ajuda nessa prática. Mas não podemos só culpar a violência urbana. Há outros fatores, nada desprezíveis: a topografia e a poluição, por exemplo. Por mais segura que pudesse ser, um passeio ao meio dia pela Rebouças não é dos programas mais atraentes. Nada disso ocorre com Nova York. Manhattan está salva das agressões físicas, das rebeldias topográficas e das chamuscadas de petróleo. Mas não foi sempre assim. Todos esses problemas só se resolveram por aqui com a mão forte do homem. O plateau de calmaria só ocorreu depois de muito revolver de terras.

A história do apaziguamento urbano e da limpeza do ar é recente por aqui. E tem nomes claros: crescimento econômico e Rudolph Giuliani. Nova yorkino sabe que na década de 80 quem andava pelo East Village depois das 10 da noite tinha intenções certas e que as baforadas dos charutos de Gordon Gekko e Bud Fox pouco contribuiam pela mancha escura sobre Wall Street. As leis antipoluentes e a mão forte de Giuliani limparam o ar e as ruas da cidade. O boom econômico deu sua empurradinha, embora convictos eleitores democratas e anti-Giuliani afirmem que a empurradinha foi como o detalhe cromossômico: fosse X e não Y, e a história seria completamente outra.

A topografia, não. Essa teve sua história já bem longe e fatores distintos. Remonta ao século XIX um dos maiores empreedimentos de engenharia da história. Nova York foi toda terraplenada e as montanhas de terra deslocadas que foram de East a West fariam inveja aos engenheiros do Ground Zero. Foi nessa época que se construiu o Central Park, embora muita gente que visita o Park custe a acreditar que ele nunca tenha sempre estado ali. Andando por lugares como Murray Hill hoje em dia, a gente se pergunta como um bairro que tem uma inclinaçãozinha de araque precisa desse sobrenome. Pois é que o nome trata de uma antiga realidade, mas que já pertence ao passado. É portanto, justificável e perdoável. Algo assim, em termos tupiniquins, como a insistência dos torcedores corinthianos com a alcunha do seu time, “timão”, embora neste caso o perdoável soe mais forte do que o justificável.

Pois é assim, andando pela cidade, que se vê a força e beleza desse caldeirão humano que é Nova York. A heterogeneidade é presente em cada esquina. Cruzo a cidade de leste a oeste. Dou paradas necessárias, pra um imprescindível “frapuccino” (o capuccino gelado da Starbucks). Forças recuperadas, ando pelo West Village, onde moços de shorts apertados procuram olhares menos discretos. Subo até Chelsea, onde os shorts curtos continuam. Resolvo voltar ao East, pra lugares mais clássicos e de calças mais longas. A paisagem muda e os comportamentos são outros. Vejo chiques apartamentos em estilo vitoriano em Gramercy Park. Anda-se tranquilamente pelas ruas sem ser incomodado com vendedores ambulantes. Distrai-se olhando as formas e tamanhos dos edifícios, bisbolhotando pelas janelas, procurando informações do universo privado. Caminhar é o maior dos prazeres baratos em Manhattan. Poucas cidades a igualam. Tem até vantagens sobre lugares como Paris, onde o olhar despreocupado fica prejudicado pela necessidade que temos em manter um olho nas calçadas, atento a dieta canina.

Gasto assim meu sábado à tarde, caminhando pelos meus 31 anos e pensando aqui e ali sobre a minha vida. Mas não penso muito. Não dá tempo. Uma buzina de um taxista afegão me traz de volta ao ritmo da cidade. Melhor assim. Já se passou a tarde toda e é hora de se preparar para a outra Nova York. Essa, começa depois das 11 da noite e tem outras caminhadas. Mas essa eu conto outro dia. Já andei muito por hoje. É hora de tomar um taxi. Volta aqui Muhamad!

posted by The guy behind a screen @ 8:35 PM |

  Thursday, September 19, 2002  

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A Pizza e a BMW

Nove da noite. Volto pra casa direto do trabalho. Espero 3 minutos na Grand Central na 42 Street e antes que eu acabe de ler as manchetes do NY Times o meu trem expresso me avisa que é hora de saltar na Union Square. Ando meia quadra e me enfeitiço com a pizzaria da esquina. Não deveria. Segunda-feira não é dia de pizza, tanto por razões institucionais como pelas atléticas. Olho de relance, salivo a boca e passo reto. Meu ônibus chega. Me perfilo na fila e, quando já a ponto de entrar, desisto. Como não gosto de dizer não às necessidades naturais do corpo, entrego os pontos e inverto a direção.

Já sentado e saboreando o rompimento com a tradição, tenho uma visão estreita da rua. Não me preocupo em comer rápido. Devoro tranquilamente meu “slice” de U$ 3.50, enquanto meu ônibus passa. Correr? Pra quê? Em 11 minutos de dedicação total ao meu pecadilho, 6 ônibus passaram, todos indo na direção da minha casa. Eis a diferença. O transporte público nesta cidade funciona! Isto muda completamente a sua vida. Deixamos o trabalho para agradáveis happy hours. Jogamos o tempo fora com passeios a pé. Esticamos o caminho pra casa em horas xeretando nas livrarias, fuçando novos CDs, checando as vitrines. Trocamos olhares com desconhecidos. Perdeu o buzão das 7, não esquenta, pega o das 7:10. Perdeu também, desencana, toca pro bar mais próximo e esquece as horas. Duas da manhã, tá bêbado? Sem problemas, a administração pública cuida de você. Quanto custa? Por US$ 63,00 por mês ando quantas vezes quiser de onibus e metrô, 24 horas por dia. Detalhe: o transporte é limpo e confortável.

Nova York tem dessas coisas. Por mais mais cara que a cidade possa ser, pode-se viver barato e com qualidade. A discrepância entre a extravagância do luxo e a simplicidade da vida módica é como a diferença entre um “slice” e a pizza inteira: é uma questão de quantidade apenas. Conseguiu-se atingir um nível higiênico de riqueza econômica. Há, evidentemente, o preço. De fato, a cultura do sucesso está tão impregnada na vida do americano que o fracasso é a palavra mais temida. Não é a toa que a palavra “looser” (perdedor) é a mais comum das agressões verbais. No Brasil não. A honra nacional constrói-se com sólidas bases na masculidade e na integridade familiar: “corno”, “viado”, “f.d.p” tem muito mais empatia com o gosto nacional. Já imaginou aquele bate boca de trânsito depois de uma batida na Oscar Freire com a Pamplona o cara chamando o outro de....“seu fracassado”... “seu perdedor!!”, e encontrando alguma satisfação e alívio nisto?

Pois bem, para o americano o fracasso tem seu lugar institucional garantido e mede-se em BMWs. Continua com aquele modelo comemorativo de passagem do século? hummmm....Ainda não tem conversível? hummm....

Nova York é, portanto, uma cidade que escapa um pouco a essa regra norte-americana, pois retira algumas simbologias que são tão presentes na cultura do sucesso e, embore não as elimine, as empurra para outros confins. Pessoalmente, acho melhor assim. Há mais espaço para os transportes públicos. E tempo de sobra para saborear a pizza...

posted by The guy behind a screen @ 6:22 PM |

  Sunday, September 15, 2002  

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Maria pra que?

Na lavanderia, cumpro meu compromisso de fim-de-semana, ato que qualquer mortal americano se dá ao trabalho. No Brasil, isso é coisa pra Maria. Enquanto aguardo a primeira etapa da lavagem (não esqueça, há a secagem), leio tranquilamente a N.Yorker desta semana. Na TV instalada na parede, dou espiadelas enquanto vão mostrando Woody Allen, em The Curse of the Jade Escorpion (como ficou no Brasil este título?). Sorrio discretamente a cada nova inserção musical no filme. Obviamente, vai tocando aqui e ali um jazzinho à la lousiana, que Woody tanto adora e que marca seus filmes recentes. Vou treinando minha capacidade hipermediática ao tentar ler a revista, checar o Woody e ouvir seu concorrente da esquina. Explico, cruzando a rua, “homens de cor” vão, com o talento de seus cromossomos, soltando swing em performática apresentação de blues no restaurante local. Tudo isso vai ocorrendo na Av. B, no East Village, na esquina com 13a Sreet, em pleno sábado, às 3 da tarde.
Paro e me pergunto: Pra que Maria?

Spielberg é humanóide

Cansado e sem disposição pra gastar meus tostões, fico em pleno sábado à noite em casa. Preciso justificar as dezenas de dólares que surro nos canais a cabo. Mando um spaghetti ao molho da vó enquanto dou redondos goles num tinto local. Zapeio aqui e ali e dou de cara com um filme do Spielberg, AI – Artificial Inteligence, pronto pra começar. Aproveito a coincidente agenda dos eventos gastronômicos e cinematográficos e entro de cabeça na empreitada. O spaghetti, porém, acaba na primeira meia hora do filme e me resta o vinho pra acompanhar Spielberg. Mas o moço não ajuda e a remissão à garrafa é uma alternativa cada vez mais constante. Há detratores dogmáticos de Spielberg, irritados com seu hollydianismo. Não me filio a esta turma. Spielberg é competente e ja nos deu pérolas do entretenimento (Indiana Jones) ao mesmo tempo em que provou saber fazer filme adulto (Schindler). Merece respeito, portanto. Mas há algo que não vai bem em AI – Artificial Intelligence. Muito embora o menino ator (o mesmo do Sexto Sentido), continue mostrando que vai longe, a história não se salva. Falta punch. Spielberg segue o destino da minha pasta e se enrola no molho que criou pra dar sabor ao script. No final, o que sobra é uma mensagem quase piegas sobre Deus, amor e ciência e a idéia original que Spielberg quis provavelmente trazer não vinga. Há perdão, contudo. Spielberg, ao contrário de seu personagem, é humano e certamente errou a mão no filme. Talvez tenha exagerado no molho.

posted by The guy behind a screen @ 7:38 PM |

  Thursday, September 12, 2002  

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State of Mind

Enfim, acabou. Ontem fez um ano do atentado, a cidade celebrou a data com várias cerimônias religiosas e outas mais pagâs e, no fim, tudo deu certo, ou seja, nenhum ataque terrorista de presente de aniversário. Ontem, porém, o dia não estava tão bonito com o dia 11 do ano passado. Ventou muito e a cerimônia de leitura dos nomes da vítimas lá no Ground Zero acabou estragando o penteado de muita gente. Não fui até lá. Fiquei em casa vendo tudo pela TV com medo do vento nas minhas melenas. Só fui trabalhar mais tarde, como quase toda cidade. No fim da tarde, porém, resolvi ir até o Central Park, onde concertos à luz de velas iriam ocorrer.

Andando pela 5a avenida já se percebia que o clima era outro. Todo mundo falando baixo numa cidade como esta transforma a paisagem. N.York sem algazarra fica estranha. Mas uma caminhada no fim da tarde de verão pela 5a avenida, especialmente entre a 45 e a 60, sempre vale a pena. Mesmo num dia como este. Vê-se as mulheres mais bonitas e elegantes do mundo. Só se compara com a Arenales, na Recolleta, em Buenos Aires e Oscar Freire em São Paulo. Mas a primeira tem o inconveniente de se encontrar nacionais do sexo oposto e a segunda é muito curta. A 5a avenida, portanto, é mais recomendável.

O que me impressionou, porém, não foi o civilismo do silêncio, nem a bela paisagem no caminho, mas a resposta civilizatória e cosmopolita que a cidade proporcionou neste 1o aniversário. Em vez de discursos nacionalistas e exaltações patrióticas, o que se viu foi uma discreta homenagem às vítimas e sutis gestos de amor à cidade. Veja, por exemplo, o concerto no Central Park. No meio de um dos gramados centrais, milhares de pessoas se aglutinaram , portando velas e estendendo suas toalhas, cada grupo fazendo um delicioso picnic. Amigos saindo do trabalho, cada um trazendo seus quitutes, se juntaram para ver um concerto de primeira. Detalhe, só “pessoas de bem”.

O concerto em si, só pela escolha do programa, já merecia aplausos. Não precisaria nem ocorrer. Bastava ir até lá, bebericar e petiscar com os amigos, ler o programa, colocar no bolso e ir embora. Bastava guardar o programa. Começou com um coral da Stuyvesant High School Choir. Sempre acompanhado pela Orchestra of St. Luke's, solistas como Billy Joe, Winton Marsalis e Yo Yo Ma foram dando seu show particular. Tocaram composições americanas de Bernstein, Copland, Gershwin, entre outros.

Fomos ouvindo aquilo tudo no início da noite, ao ar livre no Park. No meio do show, Merril Streep apareceu um pouco pra atrapalhar, lendo um trecho do discurso de Abraham Lincoln. Durou pouco. Logo depois, a pérola, a Lincoln Center Orchestra toca Rhapsodhy in Blue, de Gershwin. Sempre que ouço Gershwin penso que os americanos não podem ser tão ruins assim. Uma cultura que forja indivíduos como Gershwin e Cole Porter, merece, no mínimo, certo respeito. No final, Billy Joel faz um dueto com Winton Marsalis tocando New York, a state of mind, pra delírio geral. Pra terminar, o God Bless America, que, junto com a boring da Merril Streep insistia em estragar a festa. Mas já era tarde e nada podia mais atrapalhar. Já estávamos todos abençoados pelo trumpet do Marsalis e o piano de Joel, em outro lugar, provavelmente ali mesmo, in New York, a state of mind...


posted by The guy behind a screen @ 10:31 AM |

  Tuesday, September 10, 2002  

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E lá se foi um ano...

Passei a tarde inteira de domingo passado imerso em banho de sol, estendido no gramado em Battery Park. Pra quem não conhece, Battery Park era o jardim do WTC, o parque que foi construído ao longo do Rio Hudson com a montanha de terra que saiu das escavações da construção das torres.

Foi um domingo muito semelhante ao domingo do ano passado, dia 9 de setembro de 2.001. O dia, como aquele, estava lindo, nenhuma nuvem no céu, temperatura ideal e uma calmaria que só era perturbada uma vez ou outra pela buzina de um outro navio passando pela baía.

É estranho pensar que já faz um ano que tudo ocorreu. Para nós, habitantes passageiros desta fascinante cidade, que estávamos aqui ao lado e vimos a realidade dolorosa dos acontencimentos, o passar de um ano soa como um capítulo de ficção em nossas vidas.

Ainda é muito presente a lembrança daquela manhã e é custoso acreditar que de fato aquilo ocorreu. Pior. Que testemunhamos aquilo de tão perto. Sinto ainda o cheiro do prédio queimando e a força simbólica daquela fumaça mórbida, que por semanas a fio invadiu mansamente nossas casas.

A lembrança do acontecido, por si só, carrega uma emoção só comparável àqueles grandes dias em nossa vida, em que saímos do ordinário e extrapolamos em exageros e destemperamentos. Procuro uma imagem semelhante no passado com a mesma intensidade. Nada surge. Ou melhor, me perdoem, a lembrança vem em forma de uma conquista de Copa, emoção ao avesso, portanto.

Há um ano atrás estava ainda iniciando meu namoro com a cidade e naquela época vivia na West Broadway, que é uma rua no coração do bairro do Soho. Me sentia muito orgulhoso com a minha vista, pois tinha, de um lado, o Empire States, e de outro, o WTC. Vivia ainda em iniciado deslumbramento com a ilha e todos os seus personagens. As torres eram um referencial encantador quando caminhava de volta pra casa.

Meu apartamento ficava a sete quadras das torres gêmeas e a West Broadway terminava em cima delas. Quando conseguia romper a “barreira do sono”, corria pela manhã até lá embaixo, fazia a volta no WTC e, diante dos olhares reemprededores do pessoal que já chegava pro trabalho, voltava correndo pra casa.

Naquela manhã, porém, não fui correr. Tomava tranquilamente meu café da manhã quando ouvi barulhos na rua. Eram barulhos estranhos, ou seja, nada que se assemelhasse com as sirenes nervosas da polícia, nem com o buzinaço irritadiço dos taxistas. Eram gritos desconexos. Parecia até um algazarra estudantil. Como, porém, não há passeatas do PT por aqui e os professores do ensino público têm um salário decente, resolvi dar uma checada. Flagrei então pessoas na rua olhando todos na mesma direção, do lado sul da cidade. Havia grande excitação.


Foi então que vi uma imagem que ficará pra sempre comigo: uma cratera numa das torres já em chamas. É difícil, pela TV, sentir a dimensão do que isso representa. Há alguns espetáculos que superam de tal forma a retransmissão na TV que assisti-los em pessoa é como ver outro evento. Sim, porque o tamanho dos prédios e a mostrusiodade física que ele representa faz toda a diferença.

Enquanto o telefone em casa tocava e a Fernanda checava a CNN, fiquei do lado de fora da janela, naquelas escadas de incêndio de metal que eu tanto adorava ver nos filmes do Baretta.

Aumentava a cada segundo o número de pessoas na rua.

Naquele momento era tudo estranho e parecia certo que somente um acidente, um grande acidente, tinha ocorrido. Mas até então o sentimento era apenas de estupefação. O medo ainda não tinha passado por nossas cabeças.

Perplexo, porém, e com os olhos fixos naquela imagem, vi o segundo avião entrar na torre sul e aí tudo ficou claro e sombrio. Pela primeira vez na minha vida me senti, coletivamente, vulnerável. Sim, porque nossos medos do dia a dia, nossas pequenas aflições da violência física são quase como entidades privadas. É um medo seu, circunstancial, e, por mais que todo mundo o tenha numa cidade como Sao Paulo, por exemplo, não há comunhão desse medo. Ao menos não concomitantemente.

O pavor que começou rápida e gradativamente a se instalar naquela manhã e transcorreu por semanas a fio é a sensação de que não há nada, em lugar nenhum, nenhuma entidade onipresente que possa te defender. Estamos todos a mercê das circunstâncias e das imprevisibilidades. De fato, por meses nos EUA as pessoas tinham pavor de aviões e lugares públicos e por mais que esses lugares continuassem tão seguros, ou inseguros, como antes, a sensação era de que nada, absolutamente nada, era impossível ocorrer. Essa foi a maior vitória terrorista. Instalou-se, como que do nada, uma desconfianca total no sistema.

Ainda não ciente deste fato, porém, da escada de incêndio pra rua, acompanhei tudo então o que se seguiu por mais uma hora. Longuíssima hora.

Passado das nove da manhã a West Broadway já estava inundada por uma multidão. Gente ainda de pijama, gente de gravata, gente em seus passeios matinais com seus cachorros. Havia conversas desencontradas, todos querendo saber o que ocorria, mas pouca havia a ser falado. Ninguém conseguia deixar de olhar pra cima. No meio da multidão encontro Johnattan, um amigo advogado americano. Logo ao nosso lado havia um carro estacionado que do seu rádio passou a nos narrar cada detalhe daquela representação dantesca. Fomos acompanhando, no sereno tom do narrador, cada segundo de novas notícias: os bombeiros entrando no prédio, o Pentágono sendo atacado, as primeiras pessoas saindo do edifício. Ouvíamos e não desgrudávamos os olhos das torres. O vento soprava pro sul, em direção à baía, como que sabendo que um suspiro pro norte iria atrapalhar a visão dos expectadores. Por um segundo, porém, me concentro numa mulher que estava dentro do carro. Ela soluçava nervosamente e dava fortes tragadas no seu cigarro. De repente, a cena de horror: vejo na súbita expressão dela o final que ocorria. Seu rosto se transformou em pânico e um grito apertado sumiu no ar com o barulho da primeira torre que começava a despencar.

Acho que foram 5 segundos, 5 segundos apenas. Centenas de pessoas começaram a correr em nossa direção, enquanto, estáticos, assistíamos a primeira torre ir ao chão. Hoje, quando lembro, não sei se o mais impactante foi a cena em si ou som que a acompanhava. Sim, porque o som extrapola o espetáculo e dá ele outra conotação. Lembro-me uma vez, lendo Nelson Rodrigues, um curioso episódio em que o juiz é esbofeteado em campo. Nélson nos chama atenção não para o esbofetear, mais pelo som se klaxou pelo estádio. O som tornou o ato em si em mais que simples agressão, mas em humilhação pública. Pois o som daquela torre desabando nos aterrorizou a todos. A expressão de pânico em cada rosto naquele instante não pode ser reproduzida.

O que se seguiu depois foi um melancólico repetir na outra torre, mas já estávamos amortizados.

Por semanas em que meu bairro foi isolado pela polícia e que andávamos por aquelas ruas desertas com máscaras no rosto, a cidade entrou num baixo astral profundo. Ninguém falava alto, não havia manifestações de exaltação de qualquer tipo. Por alguns meses o novaiorquino até ficou educado, não por que quisesse, mas por que o ato grosseiro de sempre era exaltação pública que não caia bem naquela época.

Hoje, deitado no Battery Park e lembrando tudo isto, parece que nada ocorreu. O parque continua civilizado como sempre. A cidade voltou a pulsar e tudo parece que ficou na história. Até os novaiorquinos voltaram a sua “simpatia” de sempre. Mas no fundo, todos nós que vivemos, de uma forma de outra aquela manhã de 11 de setembro, ficamos, de alguma forma, diferentes.

posted by The guy behind a screen @ 6:22 PM |

  Thursday, September 05, 2002  

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11 de Setembro

Com a proximidade do 1o aniversário do World Trade Center, que a praticidade americana reduz a mera sigla (WTC), N.York volta a falar em peso no assunto. Dado curioso, somente agora, quase um ano após a tragédia sabe-se quantas pessoas morreram: 1379 confirmadas por exame de DNA + 1350 declaradas mortas depois das respectivas famílias requisitarem o Certificado de Óbito num tribunal especialmente criado pra isso Se tivesse ocorrido em S. Paulo, a administração petista da Marta estaria em assembléia até hoje se perguntando se (i) a destruição dos prédios foi “obra do Maluf” e (ii) consultando as bases pra ver qual seria o grupo indicado para os trabalhos.
A este número some-se mais 78 vítimas ainda não declaradas mortas porque as famílias não requisitaram o Certificado de Óbito. O NY Times conta que muitas destas famílias preferem ver seus entes como apenas desaperecidos, a ter que encarar a oficiliazação da morte. No final das contas, temos 2.807 pessoas, número muito inferior portanto aos 4.000 inicialmente estimados.
Alheio a tragédia e atento aos números, o instalador de TV a cabo que foi em casa, Mashaff, de nacionalidade argelina, pergunta, em tom estupefato: “Toda esta confusão só por causa de ‘two buildings’. My country was entirely destroyed…”
É verdade Mashaff, mas, infelizmente, seu povo fala árabe e um pataquois de francês e a moeda lá é o Dinar...

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Mais WTC

Livro pra colecionador e pra ficar pra história é o recentemente lançado pela galeria do Soho, “Here is N. York – A Democracy of Photographs”, que desde setembro do ano passado exibe somente fotos do evento. São mais de 5.000 mil fotos da tragédia, capturadas por profissionais e amadores que estavam na redondeza naquela manhã. O livro é impressionante. Um catatau de imagens que vão das mais poéticas até as, digamos, menos elegantes, estilo N. York Post, o Diário Popular daqui. O site vale a pena ser espiado (www.hereisnewyork.org) e o livro, pros interessados, vale ser arrematado. Em tempo: a brasileiríssima Fernanda Suplicy toca, competentemente, a direção internacional da galeria.

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Acabaram as Saudades

Ha 12 anos atrás, quando morei na França, passava dias e semanas até sem notícias da terrinha. Quando a noticia tarde chegava, o que naquela época significava mais um capítulo da novela ‘Color de Mello – o Salvador do Brasil”, o “aquilo roxo” já tinha ficado preto.
Hoje, leio o Estadão pela manhã, quando não na madrugada anterior, antes mesmo que a edição impressa bata na porta dos apartamentos em Higienópolis, Jardins e etc.
Do meu celular, ligo pra casa dos meus pais enquanto caminho no início da noite pela Madison. Na minha Palm, recebo e-mails jocosos dos amigos diretamente de seus escritórios na Av. Paulista.
So what? So what é que não há mais espaço para saudades. A palavra em português corre o risco de extinção, junto com o mico-leão-dourado, a Argentina e, infelizmente, estadistas da estirpe de um Fernando Henrique.
“Saudades” pode até sobreviver, mas, assim como o time do Santos, nunca mais terá o brilho de outrora. Fica agora circunstrita em sua limitação física, ou seja, à textura da picanha, a maciez do Chopp e a explosão de gol no Morumbi.
A entidade poética e abstrata que vinha carregada nas “Saudades’ e que enchia de orgulho os defensores da língua nacional, que insistem que não existe palavra similar em outros trópicos, esta, esta já ficou pra saudades...

posted by The guy behind a screen @ 9:24 AM |

  Tuesday, September 03, 2002  

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Migalhas Novaiorquinas II

Caiu na minha mão um livro chamado “Lateral Thinking”, de um fulano chamado Edward de Bono. Chequei e descobri que é o guru do Lair Ribeiro (arghh!). É daquelas leituras que você lê mas não conta pra ninguém que leu. Esconde na biblioteca, no cantinho, no meio dos códigos jurídicos e espremidos entre as apostilas do cursinho. Há sempre um desejo incontido de encontrar nessas leituras um grande insight pra tudo, uma resposta fácil pra esse puzzle de perguntas que rondam nossa cabeça. Paulo Coelho sacou isso, vendeu anjos pelo mundo inteiro e faturou milhões. Não há, porém, caminhos curtos. Marx quis vulgarizar sua obra e se auto-plagiou, produzindo o Manifesto Comunista. Deu no que deu. Maktub!

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Volto tarde da noite pra casa, da Grand Central na 42 pra Union Square, na 14, e enquanto espero o metrô vou ouvindo Burt Bahcharat no meu walkman. Dentro do meu mundo, ensaio uns passinhos. Ninguém repara. Melhor, ninguém me toma a carteira. Em São Paulo, não teria sequer pego o metrô (metrô pra onde?). A carteira seria levada num tapa, o walkman a sopepes e o Burt Bahcharat, coitado, acabaria jogado numa viela, não sem antes uma faixa final de despedida: “Som de viado”.

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Leio a frase pregada no screen saver do computador do meu colega de trabalho, atribuída a Eistein: “It’s not that I’m so smart, it’s that I stay with the problems longer”. É a versão chique do tupiniquim “Água mole em pedra dura...”

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"Globalização é uma princesa inglesa, que estava com um playboy egípcio, num carro alemão com motor holandês, dirigido por um
motorista belga, embriagado com whisky escocês, capotando num túnel francês, perseguidos por paparazzi italianos, e que foi socorrida por um médico brasileiro, com medicamentos americanos.
Resultado:
- Morreu......."

posted by The guy behind a screen @ 9:27 AM |

  Sunday, September 01, 2002  

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Migalhas Novaiorquinas I

Chove em N.York. Chuva fininha que lembra bem a garoa paulistana. Em inglês, “drizzle”, ou seja, aquela chuvinha intermitente que a gente se acostumou a ver em S.Paulo no inverno. É raro por aqui. Americano não gosta disto. Ou desaba um temporal, ou sufocamos no calor. Mas não venha com frescurinhas moderadas. Sanduichinhos na ciabata com peito de peru e saladinha de agrião são somente tolerados no Village e Chelsea. O orgulho nacional só se constrói mesmo calcado em três andares de hamburguer, cimentado com molhos cujos nomes eles inventam. Depois salpicam no cardápio com um título à altura, “Big N.York – Now More Than Ever”. Pronto, agora tá aprovado.
E que desabe o temporal!

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Estive na palestra do Armínio Fraga na semana que passou. Deve ter sobrado um tempinho entre a ponte aérea Whashington – N. York e ele resolveu passar a mão em mais algumas dezenas de investidores. Mal sabia ele que estava cheio de caras como eu na platéia. Teria ido pro Rio. Lá dentro, fui me enfiando entre um monte de blazers xadrez da Ralph Lauren e acabei sentando do lado do George Soros (é isso mesmo, o tal do especulador).
Fraga é um burocrata. Um ótimo burocrata. Tem a vantagem de acertar o português e ter seguido a cartilha de Soros, a quem ele passou a palestra inteira chamando de “George”. Mas fica vermelho com qualquer pergunta de estudante do 2o grau e é incapaz de chutar de trivela. É bom que o país continue na linha do FMI, pois se ele tiver que chutar de bico na Rua Javari estamos f...

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Aprendo com o meu amigo Fred Bilyk (www.168horas.blogspot.com) como se consegue um título nobiliárquico em São Paulo. Fred, como se faz isto aqui na matriz??

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Já repararam que o Armínio Fraga parece um tubarão? Tem nariz saliente e o queixo desaparece, engolido pelo pescoço. O olho dele também não tem muita expressão. Será coincidência??

posted by The guy behind a screen @ 6:49 PM |

segredos da nossa
Língua Portuguesa
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